O sonho de qualquer pai é que o filho viva com segurança. A
preocupação é justificada quando observamos os dados sobre a infância no
Brasil. Segundo a ONG Criança Segura, os acidentes domésticos são a principal
causa de morte de crianças entre 1 e 14 anos. Já as estatísticas da Associação
Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas mostram que são mais de
50 mil crianças e adolescentes desaparecidos no Brasil,sendo muitos deles
sequestrados.
Mesmo sendo pequenas, as crianças conseguem assimilar
algumas noções de segurança quando ensinadas da maneira correta e em uma
linguagem compreensível para a idade delas.
Conversamos com especialistas para
descobrir as melhores dicas.
1. A responsabilidade é sua!
Um alerta importante: ensinar essas noções ao filho não tira
a sua responsabilidade como pai de mantê-lo seguro. Ao saber onde estão os
perigos, ele poderá de fato ser mais cuidadoso, mas isso não é uma garantia
contra os acidentes.
2. Como falar com a criança ?
A melhor maneira de ensinar noções de segurança a uma
criança pequena é usar exemplos que tenham coerência com o dia a dia dela. Ao
explicar, por exemplo, que ela não deve aceitar balas de um desconhecido, diga
que ela poderá ter uma dor de barriga horrível. A ideia é informar, e não
amedrontar a criança.
Foi essa a maneira escolhida pela escritora Aline Angeli,
autora de O Livro das Emergências - O Que Toda Criança Esperta Precisa Saber
Sobre Segurança. "A maioria das crianças compreende a noção de que o
perigo se esconde em algumas situações, e acredito que vale a pena, sim,
apresentar conceitos como o de acidentes caseiros e problemas com estranhos para
elas o quanto antes. É preciso treinar com os pequenos o desfecho para
situações de emergência, como saber o número do telefone de casa caso se percam
na rua", diz Aline.
As explicações devem ser dadas por inteiro ("Se você
cair da janela, vai se machucar, terá dodóis e não poderá mais ficar com o
papai e a mamãe"). Do contrário, corre-se o risco de a criança ficar
curiosa sobre o desfecho e fazer o que não pode só para saber o que acontece. E
dê um tempo para ela absorver a explicação. Como tudo o que se relaciona à
educação infantil, o segredo é a repetição. Quando algo ocorrer, não grite, não
berre. Converse. A criança tem de sentir que há uma parceria entre vocês.
"Se ficar com medo e perder a confiança nos pais, ela nunca mais vai
contar o que fez. Tem de haver uma cumplicidade para que os filhos falem sobre
o que aconteceu", explica Glauce Assunção, psicóloga e neuropsicóloga do
Hospital São Camilo/Santana, em São Paulo. Equilibre a bronca para manter o
canal de comunicação aberto.
3. Como lidar com pessoas estranhas?
Mesmo crianças que costumam "estranhar" quem não
conhecem vão seguir um desconhecido se ele oferecer um brinquedo ou um doce.
Crianças tendem a achar que adultos são sinônimos de segurança. Os pais
precisam explicar, de forma equilibrada, que nem todo mundo é legal, que
algumas pessoas são "bobas", podem bater, deixar a criança sem comida
e por aí vai. Procure ser o mais claro possível. Não fale em bicho-papão e
homem-do-saco.
Diga que se trata de um homem ou mulher ruins que podem
levá-la para longe da mamãe. E, mesmo em situações nas quais é a mãe de um
amiguinho ou uma tia que convida para sair, é necessário que ele avise a mamãe
ou o papai. Não é necessário incutir medo na criança, mas ela deve saber que
não é bom sair sem avisar os pais.
Na lista das explicações a respeito do contato com pessoas
estranhas, entra também um alerta sobre ser tocado por elas. O assunto é bem
delicado, mas necessário. Vale mostrar que um carinho na cabeça é aceitável,
mas que, no restante do corpo, é melhor que apenas papai e mamãe tenham acesso.
Fale isso de forma tranquila, do mesmo modo que explica sobre o perigo de dedos
na tomada. Crianças pequenas não têm malícia e vão encarar a explicação de
forma mais prática do que você imagina.
Oriente seu filho para gritar bem alto se um estranho tentar
levá-lo à força. A melhor frase para usar é "Esse não é o meu pai,
socorro!". Ele deve fazer isso mesmo que o tal adulto peça para que fique
quietinho. É importante que os pais sempre tenham a confiança da criança para
ensinar que, se alguém ameaçá-la dizendo “não conte isso para os seus pais”,
ela faça exatamente o contrário e nunca guarde segredos.
4. O que fazer quando se perder ?
Perder uma criança em locais públicos é muito mais comum do
que se imagina. Não adianta ficar ameaçando o pequeno a nunca mais sair de casa
caso não pare quieto. O melhor é prevenir. A partir de 3 anos de idade,
dependendo do desenvolvimento de seu filho, ele já conseguirá decorar o número
do telefone de casa. Treine bastante. Ele vai adorar e se sentir importante.
Antes disso, crianças devem sair sempre com um cartãozinho com o nome e
telefone dos pais. Mostre que o cartão estará no bolso da roupa e, caso ela se
perca, deve mostrá-lo a alguém.
Mas quem? Sempre oriente seu filho a procurar: a mãe ou pai
de outra criança, um guarda/policial/segurança (é fácil para ela identificar o
uniforme) ou alguém que trabalhe dentro de uma loja ou restaurante – de
preferência no caixa. Diga que essas pessoas poderão ajudá-la a encontrar você
novamente. Também é importante pedir que ela não saia da área onde se perdeu,
pois você estará procurando por ali.
Outra dica bacana, dependendo da capacidade de entendimento
da criança, é combinar um local ao qual ela deve ir caso se perca. Pode ser sua
loja de fast-food preferida ou aquela doceria onde existe um sorvete delicioso
– são informações visuais que a criança é capaz de guardar por associação.
Na rua, vale ressaltar o perigo dos carros e orientar para
que fique na calçada. Ou, melhor ainda, que entre em um local como uma loja,
padaria, prédio, onde ficará mais segura e poderá pedir auxílio. Já na praia, o
melhor é explicar o perigo de tentar entrar na água caso se veja sozinha. Fale
que, apesar de bonito, o mar pode ser bem chato com as crianças, pois pode tentar
arrastá-las para o fundo e fazer muitos dodóis. Avise que isso acontece também
com quem sabe nadar. Por isso, ele deve ficar na areia, perto do lugar onde viu
os pais pela última vez. E deve procurar ajuda com outras famílias que
estiverem por perto. Ou, se a praia tiver pontos de salva-vidas e informações,
geralmente sinalizados com bandeiras bem vistosas, ensine-a a ir até lá.
Finalize as explicações mostrando que o melhor mesmo é ficar
sempre ao lado dos pais para nada disso acontecer e estragar o passeio. E, caso
a criança se perca, quando achá-la, segure a ansiedade, dê bronca, mas não
grite. Respire, mostre o quanto ficou preocupado e, caso ela tenha seguido
algumas das suas orientações, elogie o seu desempenho. Mas deixe claro que
aquilo foi ruim e não deve acontecer novamente.
5. Cuidados que elas devem ter na rua
Perder-se na multidão enquanto anda na rua não é o único
problema que pode ocorrer com crianças. Infelizmente, os atropelamentos são a
segunda causa de morte infantil no Brasil, segundo a ONG Criança Segura. A
explicação é simples: até os 10 anos, o pequeno não tem noção de tempo nem de
espaço e não desenvolveu a visão periférica. Fica confuso. Quando vê um carro e
um caminhão vindo em sua direção, por exemplo, sempre achará que o último, em
razão do tamanho, está mais perto. Ela vai ter de crescer e praticar muito para
fazer tudo isso sozinha. Até lá, só deve andar na rua acompanhada! E de mãos
dadas com o adulto, que deve segurá-la de preferência pelo pulso – mais difícil
de escorregar caso ela resolva sair correndo. Hoje em dia, as calçadas também
andam perigosas. Carros entram e saem a todo momento. Por isso, a mão dada
também vale para a calçada.
6. Como se comportar em parques e playgrounds?
Os perigos aqui são dois. Primeiro, é bom a criança ter a
noção de que brinquedos quebrados, podem machucar. A responsabilidade de
verificar o estado de manutenção do parque é dos pais, mas a criança pode
ajudar avisando quando notar algum problema. Mostre também que cada brinquedo
funciona de um jeito, e será legal se isso for respeitado. A ideia não é
cercear a criança, mas orientá-la e diminuir o risco de acidentes.
O ideal é nunca deixar a criança sozinha nesses lugares,
mesmo que tenha um grupinho de mães por ali, já que nem sempre é possível prever
quando elas sairão do lugar. Explique para seu filho que, caso você não esteja
por perto, ele não deve sair do playground. Não pode sair do prédio e não deve
ir ao apartamento de outra pessoa sem avisar você. Ele tem de fazer isso mesmo
que os pais do amigo digam que está tudo bem.
7. As armadilhas dentro de casa
Uma casa pode ser perigosa para uma criança pequena. Há
móveis altos, cantos de mesa, tomadas, acessórios de cozinha, produtos de
limpeza, remédios, pisos escorregadios, janelas sem rede... O jeito é ir
mostrando como cada coisa, se usada da forma errada, pode causar dodói. E
explique tudo, com começo, meio e fim.
Dependendo da idade do seu filho, não adianta, por exemplo,
simplesmente guardar os remédios em lugares altos. Ele ficará curioso e arrastará
uma cadeira para alcançar. Diga que, à medida que ele for crescendo, aprenderá
a lidar melhor com tudo aquilo e os riscos de perigo irão diminuir – mas não
acabar. Aproveite seus próprios acidentes, como um corte na hora de picar
legumes, para exemplificar que aquilo pode doer e não é legal. Com o tempo e
muita explicação, elas podem ficar um pouco mais cuidadosas.
Uma ótima ideia é ensinar o número de telefone da polícia
para a criança. O 190 é um número fácil de decorar e achar no teclado. Explique
que se trata de algo muito sério, um telefone especial que não deve ser usado à
toa. Mas tem de ser discado se: um adulto pedir, mamãe, papai ou quem estiver
cuidando dele desmaiar, pegar fogo em algum lugar, um desconhecido tentar
entrar na casa. Se conseguir dizer o endereço para quem atender, melhor ainda.
Acredite: crianças e adultos já foram salvos por essa pequena atitude.
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