Cerca de 1 a 2 de cada 1000 recém-nascidos vivos apresentam cardiopatia
congênita crítica. Em torno de 30% destes recebem alta hospitalar sem o diagnóstico,
e podem evoluir para choque, hipóxia ou óbito precoce, antes de receber o
tratamento adequado.
São consideradas cardiopatias congênitas críticas aquelas
onde a apresentação clínica decorre do
fechamento ou restrição do canal arterial (cardiopatias canal-dependentes),
tais como:
- cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do canal
arterial: atresia pulmonar e similares;
- cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do canal
arterial: Síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, coartação da aorta
crítica e similares;
- cardiopatias com circulação em paralelo: transposição de
grandes artérias.
Diagnóstico:
Na maioria das unidades neonatais, a alta hospitalar é
realizada entre 36 e 48 horas de vida. Nesta fase, a manifestação clínica das
cardiopatias críticas pode não ter ocorrido, principalmente nas com fluxo
dependente do canal arterial. Além disso, a ausculta cardíaca pode ser
aparentemente normal nesta fase.
O diagnóstico precoce é fundamental, pois pode evitar
choque, acidose, parada cardíaca ou agravo neurológico antes do tratamento da
cardiopatia. As cardiopatias congênitas representam cerca de 10% dos óbitos
infantis e cerca de 20 a 40% dos óbitos decorrentes de malformações. Melhorar o
diagnóstico destas cardiopatias poderá reduzir a taxa de mortalidade neonatal
em nosso meio.
O método ideal para o diagnóstico de cardiopatia congênita é
o ecocardiograma com mapeamento de fluxo em cores seja fetal ou pós-natal,
porém a sua utilização como ferramenta de triagem é inviável.
No grupo das cardiopatias congênitas críticas, ocorre uma
mistura de sangue entre as circulações sistêmica e pulmonar, o que acarreta uma
redução da saturação periférica de O2. Neste sentido, a aferição da oximetria
de pulso de forma rotineira em recém-nascidos aparentemente saudáveis com idade
gestacional > 34 semanas, tem mostrado uma elevada sensibilidade e
especificidade para detecção precoce destas cardiopatias.
O teste da oximetria de pulso consiste em um exame não
invasivo realizado com um aparelho chamado oxìmetro, encostando-se o sensor,
que mede a oxigenação do sangue, na mão direita e em um dos pés do
recém-nascido. O resultado é normal se o aparelho registrar um nível de
oxigenação maior ou igual a 95% nas duas extremidades e diferença menor que 3 %
entre as medidas do membro superior direito e do membro inferior. Se o
resultado for menor que 95% ou houver diferença maior ou igual a 3% entre as
extremidades, o teste é repetido em 1 hora. Persistindo o resultado, a criança
deve ser submetida a uma ecocardiografia dentro das 24h seguintes e passará a
receber acompanhamento cardiológico.
Este teste apresenta sensibilidade de 75% e especificidade
de 99%. Sendo assim, algumas cardiopatias críticas podem não ser detectadas
através dele, principalmente as do tipo coartação de aorta. A realização deste
teste não descarta a necessidade de realização de exame físico minucioso e
detalhado em todo recém-nascido antes da alta hospitalar.
É incontestável a importância desta ferramenta de
diagnóstico e seu impacto no decréscimo da mortalidade neonatal.
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